Pilates Clássico na Dança
O Método Pilates,
diferentemente da dança, tem apenas um criador, graças a isso podemos dizer que
o método é único e as pessoas que divulgam e trabalham com o método clássico
são as que honram a integridade do trabalho original desenvolvido por Joseph
Pilates.
Durante o período da Guerra, no
campo de concentração em que Pilates ficou recluso e atuou como enfermeiro,
desenvolveu os equipamentos que são conhecidos e utilizados até hoje e também a
“Contrologia” ou “a arte do controle” do corpo juntamente com os seis
princípios básicos: concentração, respiração, centralização, precisão, fluência
e controle.
Após a Guerra, retornou à Alemanha a convite do
governo para treinar auto-defesa e realizar o preparo físico da força policial
da cidade de Hamburgo. Nesta época teve o primeiro contato com o mundo da Dança
quando conheceu Rudolf Von Laban, que incorporou princípios de Pilates a sua
técnica corporal e, assim como Pilates, questionou muito o treinamento físico
de sua época. Laban (1978) criticou o “vazio” existente nas peças de teatro e
dança, buscando movimentos mais espontâneos e conscientes. Também Mary Wigman,
uma famosa bailarina alemã que era sua cliente utilizava os exercícios de Pilates
como preparação física de seus bailarinos no início da aula.
Em 1926, aos 46 anos, Pilates emigrou para os Estados
Unidos, fundando em Nova York seu primeiro estúdio na Oitava avenida no número
939, em um edifício onde haviam vários estúdios de dança, o qual atraiu
imediatamente a atenção deste público. Famosos bailarinos da época viram-se
beneficiados com a sua técnica, como Martha Graham, professora, bailarina e
coreógrafa pioneira da dança moderna, Ruth St. Denis, Ted Shawn, Jerome
Robbins, Hanya Holm e George Balanchine, fundador da School of American Ballet e diretor da Companhia que viria a ser o New York City Ballet atualmente. Joseph
e Clara Pilates frequentemente viajavam para o Pillow de Jacob, um campo de
dança nas Montanhas de Berkshire.
Romana Kryzanowska, uma
das alunas de Joseph Pilates e que tem por anos transmitido os ensinamentos
clássicos, era uma jovem bailarina da School
of American Ballet quando foi apresentada a Joseph Pilates por George
Balanchine. Tinha lesionado seu tornozelo e não podia mais dançar. Na época
(1941) não havia a fisioterapia ou a medicina esportiva e a única alternativa
eram as cirurgias, assim mesmo muito primitivas. Passou a fazer aulas com
Joseph Pilates e já na sua primeira sessão, estranhou o fato de que para apenas
uma lesão de tornozelo tivesse que exercitar todo o corpo, com exercícios não
específicos para a área lesionada. Após a sua terceira sessão, notou que já não
havia inchaço e que não mais sentia dor. Assim, compreendeu o primeiro
princípio deste trabalho: “circulação é o que cura”. Quando retornou às aulas
de ballet notou que tinha mais força, equilíbrio corporal e domínio de seus
movimentos, além de estar totalmente recuperada.
Sari Pace, também filha
de Romana Kryzanowska, foi introduzida no Método aos oito anos de idade, quando
teve complicações de uma enfermidade que a levou a uma cirurgia no tendão do
pé, incapacitando-a de andar por seis meses. Os músculos do pé e da perna
ficaram muito atrofiados e seu prognóstico foi de que não dançaria mais.
Segundo Kryzanowska, conseguiu recuperar-se e dançar profissionalmente e, da
mesma forma como ocorreu com Paul Mejía, foram feitas associações entre sua
cura e a ajuda de exercícios de solo ensinados por Pilates. Sari Pace,
representa a segunda geração a continuar a tradição do ensino do Método em sua forma original.
O Método Pilates é um
sistema alternativo de movimentos utilizado na reabilitação, pós-reabilitação e
no condicionamento, significa que podemos utilizar seus princípios e benefícios
desde o leito hospitalar até com atletas, bailarinos profissionais e etc... Serve
de complemento à qualquer outra atividade física, por exemplo é muito utilizado
como preparação física de bailarinos e atletas de elite. Hoje já há muitos
exemplos e algumas comprovações científicas. Publiquei minha dissertação de
mestrado em 2004 provando cientificamente os resultados do método na preparação
física de atletas na prevenção do surgimento de lesões.
O Método Pilates Clássico
traz o equilíbrio entre os fatores força e flexibilidade promovendo melhor
harmonia entre as cadeias musculares. Fornecendo comprimento a musculatura
“encurtada” e fortalecimento aos músculos enfraquecidos e harmonizando o corpo
do bailarino que muitas vezes tem um desequilíbrio entre os fatores força e
flexibilidade, fator que acarreta maior predisposição as lesões.
Atuei profissionalmente
como bailarina e desde a infância acostumei-me a conviver com as dores no
corpo, com as privações no tempo de lazer e com o clima competitivo em busca da
melhor performance. Na recuperação de minhas lesões estive sujeita a
tratamentos do tipo: “Se você parasse de dançar... seu joelho ficaria bom.”.
Mas, uma vez que compreendo que tanto o atleta como o bailarino não “podem” e
nem “conseguem” deixar de atuar, busco estudar meios que contribuam para
minimizar a dor e que possam igualmente atuar como medidas preventivas.
Minha trajetória com o
Método Pilates teve início em 1997, quando pela primeira vez ouvi falar sobre a
técnica, através de uma profissional da companhia de dança da qual eu fazia
parte. Tratava-se de uma bailarina que se destacava no nosso grupo, pois
dispunha de uma força e resistência inigualáveis. Fisicamente eu demonstrava
falta de harmonia, minhas pernas apresentavam músculos visivelmente mais
desenvolvidos que os do tronco e dos braços. O fator flexibilidade superava
muito a força muscular e eu sofria com freqüência entorses e tendinites.
Em dezembro de 1997, em
Nova York, durante curso de aperfeiçoamento em dança moderna no Limón Institute, os bailarinos após a
aula seguiam para a aula de preparação física com o Método Pilates. Era algo
inédito para mim já que eu acreditava que a preparação física de um bailarino
era feita somente com as aulas de dança. Me identifiquei imediatamente com o
método já na primeira sessão e pude compreender como podia auxiliar na
prevenção de lesões e no meu melhor desempenho dentro da dança fazendo com que
eu me tornasse um bailarina mais ágil com mais força e domínio dos movimentos!
Texto retirado do Livro: Método Pilates de Condicionamento do Corpo, Editora Phorte, 2010.
Prof. Mestre Cecilia Panelli
Mestre em Pedagogia do
Movimento e Motricidade Humana, Bacharel e Licenciada em Dança pela Unicamp.
Integrante do corpo-docente de cursos de pós-graduação em Pilates. Diretora do
primeiro Centro de Certificação Filiado à Power Pilates® no Brasil, Professora
Teacher Trainer da Power Pilates®. Autora do livro Método Pilates de
Condicionamento do Corpo e tradutora das Obras Completas de Joseph Pilates,
autora de artigos científicos relacionados à sua linha de pesquisa sobre o
Método Pilates.