sexta-feira, 22 de maio de 2015


Pilates Clássico na Dança

O Método Pilates, diferentemente da dança, tem apenas um criador, graças a isso podemos dizer que o método é único e as pessoas que divulgam e trabalham com o método clássico são as que honram a integridade do trabalho original desenvolvido por Joseph Pilates.

Durante o período da Guerra, no campo de concentração em que Pilates ficou recluso e atuou como enfermeiro, desenvolveu os equipamentos que são conhecidos e utilizados até hoje e também a “Contrologia” ou “a arte do controle” do corpo juntamente com os seis princípios básicos: concentração, respiração, centralização, precisão, fluência e controle.
Após a Guerra, retornou à Alemanha a convite do governo para treinar auto-defesa e realizar o preparo físico da força policial da cidade de Hamburgo. Nesta época teve o primeiro contato com o mundo da Dança quando conheceu Rudolf Von Laban, que incorporou princípios de Pilates a sua técnica corporal e, assim como Pilates, questionou muito o treinamento físico de sua época. Laban (1978) criticou o “vazio” existente nas peças de teatro e dança, buscando movimentos mais espontâneos e conscientes. Também Mary Wigman, uma famosa bailarina alemã que era sua cliente utilizava os exercícios de Pilates como preparação física de seus bailarinos no início da aula.

Em 1926, aos 46 anos, Pilates emigrou para os Estados Unidos, fundando em Nova York seu primeiro estúdio na Oitava avenida no número 939, em um edifício onde haviam vários estúdios de dança, o qual atraiu imediatamente a atenção deste público. Famosos bailarinos da época viram-se beneficiados com a sua técnica, como Martha Graham, professora, bailarina e coreógrafa pioneira da dança moderna, Ruth St. Denis, Ted Shawn, Jerome Robbins, Hanya Holm e George Balanchine, fundador da School of American Ballet e diretor da Companhia que viria a ser o New York City Ballet atualmente. Joseph e Clara Pilates frequentemente viajavam para o Pillow de Jacob, um campo de dança nas Montanhas de Berkshire.
Romana Kryzanowska, uma das alunas de Joseph Pilates e que tem por anos transmitido os ensinamentos clássicos, era uma jovem bailarina da School of American Ballet quando foi apresentada a Joseph Pilates por George Balanchine. Tinha lesionado seu tornozelo e não podia mais dançar. Na época (1941) não havia a fisioterapia ou a medicina esportiva e a única alternativa eram as cirurgias, assim mesmo muito primitivas. Passou a fazer aulas com Joseph Pilates e já na sua primeira sessão, estranhou o fato de que para apenas uma lesão de tornozelo tivesse que exercitar todo o corpo, com exercícios não específicos para a área lesionada. Após a sua terceira sessão, notou que já não havia inchaço e que não mais sentia dor. Assim, compreendeu o primeiro princípio deste trabalho: “circulação é o que cura”. Quando retornou às aulas de ballet notou que tinha mais força, equilíbrio corporal e domínio de seus movimentos, além de estar totalmente recuperada. 

Sari Pace, também filha de Romana Kryzanowska, foi introduzida no Método aos oito anos de idade, quando teve complicações de uma enfermidade que a levou a uma cirurgia no tendão do pé, incapacitando-a de andar por seis meses. Os músculos do pé e da perna ficaram muito atrofiados e seu prognóstico foi de que não dançaria mais. Segundo Kryzanowska, conseguiu recuperar-se e dançar profissionalmente e, da mesma forma como ocorreu com Paul Mejía, foram feitas associações entre sua cura e a ajuda de exercícios de solo ensinados por Pilates. Sari Pace, representa a segunda geração a continuar a tradição do ensino do Método em sua forma original.

O Método Pilates é um sistema alternativo de movimentos utilizado na reabilitação, pós-reabilitação e no condicionamento, significa que podemos utilizar seus princípios e benefícios desde o leito hospitalar até com atletas, bailarinos profissionais e etc... Serve de complemento à qualquer outra atividade física, por exemplo é muito utilizado como preparação física de bailarinos e atletas de elite. Hoje já há muitos exemplos e algumas comprovações científicas. Publiquei minha dissertação de mestrado em 2004 provando cientificamente os resultados do método na preparação física de atletas na prevenção do surgimento de lesões.

O Método Pilates Clássico traz o equilíbrio entre os fatores força e flexibilidade promovendo melhor harmonia entre as cadeias musculares. Fornecendo comprimento a musculatura “encurtada” e fortalecimento aos músculos enfraquecidos e harmonizando o corpo do bailarino que muitas vezes tem um desequilíbrio entre os fatores força e flexibilidade, fator que acarreta maior predisposição as lesões.

Atuei profissionalmente como bailarina e desde a infância acostumei-me a conviver com as dores no corpo, com as privações no tempo de lazer e com o clima competitivo em busca da melhor performance. Na recuperação de minhas lesões estive sujeita a tratamentos do tipo: “Se você parasse de dançar... seu joelho ficaria bom.”. Mas, uma vez que compreendo que tanto o atleta como o bailarino não “podem” e nem “conseguem” deixar de atuar, busco estudar meios que contribuam para minimizar a dor e que possam igualmente atuar como medidas preventivas.


Minha trajetória com o Método Pilates teve início em 1997, quando pela primeira vez ouvi falar sobre a técnica, através de uma profissional da companhia de dança da qual eu fazia parte. Tratava-se de uma bailarina que se destacava no nosso grupo, pois dispunha de uma força e resistência inigualáveis. Fisicamente eu demonstrava falta de harmonia, minhas pernas apresentavam músculos visivelmente mais desenvolvidos que os do tronco e dos braços. O fator flexibilidade superava muito a força muscular e eu sofria com freqüência entorses e tendinites.

Em dezembro de 1997, em Nova York, durante curso de aperfeiçoamento em dança moderna no Limón Institute, os bailarinos após a aula seguiam para a aula de preparação física com o Método Pilates. Era algo inédito para mim já que eu acreditava que a preparação física de um bailarino era feita somente com as aulas de dança. Me identifiquei imediatamente com o método já na primeira sessão e pude compreender como podia auxiliar na prevenção de lesões e no meu melhor desempenho dentro da dança fazendo com que eu me tornasse um bailarina mais ágil com mais força e domínio dos movimentos!

Texto retirado do Livro: Método Pilates de Condicionamento do Corpo, Editora Phorte, 2010. 
           
Prof. Mestre Cecilia Panelli
Mestre em Pedagogia do Movimento e Motricidade Humana, Bacharel e Licenciada em Dança pela Unicamp. Integrante do corpo-docente de cursos de pós-graduação em Pilates. Diretora do primeiro Centro de Certificação Filiado à Power Pilates® no Brasil, Professora Teacher Trainer da Power Pilates®. Autora do livro Método Pilates de Condicionamento do Corpo e tradutora das Obras Completas de Joseph Pilates, autora de artigos científicos relacionados à sua linha de pesquisa sobre o Método Pilates.






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